Favela

Favela em Foco: Símbolo da Desigualdade, Berço Cultural e Musa do Cinema Nacional e Muito Mais!

Em 1900, o delegado Eneas Galvão usou o termo “favela” de forma pejorativa ao se referir ao Morro da Providência, sem imaginar que essa palavra se tornaria um símbolo duradouro do Brasil. Em resposta, os moradores decidiram transformar o dia 4 de novembro em uma data de reconhecimento e orgulho, celebrando o lugar onde viviam. O termo “favela” nasceu durante a Guerra de Canudos, inspirado em um morro coberto por uma planta da região conhecida como favela ou favela-de-cachorro, dependendo da localidade. Hoje, vamos explorar a história desse ícone brasileiro — símbolo de desigualdade, berço cultural, musa do cinema nacional e alvo de estereótipos no olhar estrangeiro.

Origem das Favelas: Abolição da Escravidão, Cortiços e Guerra de Canudos

As favelas do Rio de Janeiro têm raízes fincadas em lutas e conquistas, surgindo de batalhas constantes por condições humanitárias mínimas e carregadas pelo estigma do termo “favela,” uma estratégia histórica de separar as populações periféricas do restante da cidade. Esses espaços são o cenário de importantes movimentos sociais que lutam por direitos civis, habitação digna e igualdade.

Contudo, enfrentam desafios significativos devido à vulnerabilidade a desastres naturais, como chuvas fortes e deslizamentos de terra. Muitas comunidades estão localizadas em áreas de risco, onde a falta de infraestrutura e o urbanismo desordenado expõem os moradores a tragédias. A situação é agravada pela presença das forças policiais, cuja atuação muitas vezes resulta em violência e violações de direitos.

As invasões policiais não apenas intensificam o clima de medo, mas também alimentam um ciclo de criminalização que marginaliza ainda mais os habitantes das favelas, dificultando o desenvolvimento de soluções efetivas e humanizadas para os problemas enfrentados. A origem das favelas remonta à abolição da escravidão, ao surgimento de cortiços e à Guerra de Canudos.

O século XIX no Brasil foi marcado pela abolição gradual da escravidão, culminando na assinatura da Lei Áurea em 1888. No entanto, essa conquista não veio acompanhada de reparação histórica ou de direitos trabalhistas para os ex-escravizados, que foram deixados à margem da sociedade, sem acesso a recursos básicos.

Os cortiços, moradias precárias, se popularizaram no Rio de Janeiro, abrigando aqueles considerados “descartáveis” — negros, nordestinos, prostitutas, capoeiras e mulatos. Esses cortiços eram geralmente compartilhados por diversas famílias, localizados nos centros das grandes cidades, permitindo que trabalhadores assalariados morassem perto de seus empregos e pagassem suas habitações com os salários recebidos. O maior cortiço do centro carioca era chamado Cabeça de Porco.

No final do século XIX, muitas casas e cortiços foram demolidos em nome da reurbanização, saneamento básico e da tentativa de “civilizar” o centro da cidade maravilhosa, transformando-a em uma “nova Paris” planejada para as elites durante a chamada Reforma Pereira Passos. Essa remodelação urbana ocorreu entre 1903 e 1906, durante o mandato do prefeito Francisco Pereira Passos, e visava remover das áreas centrais as populações consideradas indesejáveis, transferindo-as para regiões periféricas e precárias, longe dos olhos da classe dominante.

Essa exclusão urbana não só reforçou a segregação social, mas também lançou as bases para a criação das primeiras favelas nos morros do Rio de Janeiro. Nesse período, outra população vulnerável se uniu aos marginalizados: os soldados que haviam lutado na Guerra de Canudos, um conflito brutal no interior da Bahia, onde ex-escravizados, camponeses e sertanejos resistiam ao controle do governo.

No Arraial de Canudos, liderado por Antônio Conselheiro, uma figura mística e religiosa, os moradores encontraram refúgio da extrema miséria do sertão, vivendo em uma comunidade de fé e igualdade. A vida comunitária, sem diferenças sociais e com rebanhos e lavouras compartilhados, preocupava o governo, que temia que o assentamento se tornasse um núcleo de rebelião monarquista contra a República.

Quando Conselheiro e seus seguidores se recusaram a pagar impostos e resistiram à interferência externa, o governo viu Canudos como uma ameaça direta, desencadeando expedições militares para destruir o Arraial. No entanto, ao retornarem ao Rio, esses soldados, apesar da promessa de moradia, encontraram pouco apoio e foram forçados a improvisar suas habitações nos morros da cidade — um dos primeiros passos para a formação das favelas.

Favela: Berço Cultural

Apesar dos pesares, a favela é um berço cultural inegável da cultura brasileira com gêneros musicais que são parte da nossa identidade brasileira. Do samba, pagode, funk Carioca e rap.

As raízes do samba remontam ao século XVIII, entre os escravizados africanos que trabalhavam nos engenhos de cana-de-açúcar do Nordeste e nas fazendas de café e minas das regiões sul do Brasil. Esses ritmos surgiram nos espaços exíguos onde esses escravizados viviam, expressando-se por meio dos sons de seus pés e mãos batendo no chão ou em seus próprios corpos, uma vez que instrumentos musicais eram escassos. Notavelmente, esse som único era inspirado em gêneros musicais nativos de suas terras de origem, como o lundu, entre outros.

Além disso, o samba fundiu-se com melodias europeias como a polca, valsa, mazurca e minueto, além de ritmos indígenas. O termo “samba” acredita-se ter origem na palavra “semba,” do Kimbundu (língua angolana), que significa um “convite para dançar” e servia como designação comum para as festas promovidas pelos escravizados.

No século seguinte à abolição da escravidão, os ex-escravizados migraram para a então capital do Brasil, o Rio de Janeiro, em busca de oportunidades de trabalho. Eles trouxeram consigo um rico patrimônio cultural que se cristalizou em um gênero musical e de dança distinto, evoluindo para várias subvertentes. Essa expressão cultural encontrou um lar vibrante nas favelas, onde ex-escravizados foram frequentemente realocados devido à falta de políticas inclusivas e às práticas sociais excludentes.

O samba floresceu nessas comunidades, especialmente nas casas das “tias” baianas, mulheres negras idosas, ou nos “terreiros”. Os terreiros serviam como espaços sagrados dedicados à prática da cultura afro-brasileira, incluindo a Capoeira, o Candomblé e a Umbanda.

Entretanto, essas reuniões, especialmente em espaços públicos, frequentemente atraíam a atenção da polícia, pois eram vistas com desconfiança sob leis injustas, enraizadas em racismo velado e visões preconceituosas. A “lei da vadiagem”, por exemplo, previa a prisão de qualquer pessoa envolvida em atividades associadas à cultura africana, estendendo-se até mesmo à posse de instrumentos de percussão.

Apesar dessas medidas opressivas, a comunidade negra demonstrou uma resiliência e resistência notáveis. Curiosamente, ao virar do século, até mesmo os setores mais altos da sociedade do Rio de Janeiro começaram a incorporar ritmos africanos em seus eventos, sinalizando uma mudança significativa em direção à aceitação e integração desse patrimônio cultural.

Na década de 1930, o então presidente Getúlio Vargas desempenhou um papel crucial ao descriminalizar o gênero musical do samba, abraçando-o como parte integrante da identidade brasileira. Simultaneamente, a ascensão do samba tornou-se inseparável do Carnaval, a icônica celebração brasileira.

A partir daí, ao longo das décadas, o samba se reinventou e floresceu em uma rica diversidade de subgêneros, como o contagiante pagode, que ganhou força nos anos 70 e 80, trazendo novas batidas, letras e instrumentos e ampliando ainda mais o alcance e a popularidade do gênero.

Na mesma década em que o funk carioca surgiu no cenário brasileiro, o gênero já tinha uma longa trajetória nos Estados Unidos, especialmente no Sul, onde foi criado por músicos negros nos anos 60. Nascido de uma fusão de ritmos afro-americanos populares, como blues, gospel, jazz e soul, o funk carregava um espírito vibrante e dançante, com letras que falavam das vivências cotidianas da comunidade negra, incluindo as lutas por direitos civis e contra a discriminação.

A palavra “funk” deriva de uma mistura entre inglês e kimbundu, usada por músicos de jazz para incentivar os colegas a colocarem mais energia na música. O gênero chegou no Brasil nos anos 70 e rapidamente cativou músicos renomados como Tim Maia (1943-1998) e Tony Tornado, que trouxeram uma mistura de funk americano com ritmos brasileiros.

O radialista Big Boy (1943-1977) foi um dos responsáveis pela popularização do gênero, promovendo os “Bailes da Pesada” no Canecão, no Rio de Janeiro, onde se tocava uma fusão de rock, soul, groove e funk, tornando-se um ponto de encontro para a juventude carioca. Com o tempo, esses eventos deram lugar a novas vertentes musicais, como o “baile funk,” que incorporou elementos do Miami bass.

Nos anos 80, o funk se misturou ao hip hop e ao rap, ganhando novas interpretações em bairros negros de Miami, com uma batida acelerada e influências cubanas, e em Nova York que inspirou o funk carioca.

O funk carioca propriamente dito começou a tomar forma nos anos 1980, misturando batidas eletrônicas do hip hop e afrobeat com a percussão do Candomblé, a poesia do rap, e o talento dos DJs para criar batidas repetitivas com melodia. Suas letras abordavam o cotidiano das periferias e favelas cariocas.

Nos anos 1990, com o aumento da violência urbana e as invasões policiais nas favelas, o conteúdo das músicas passou a retratar essa realidade dura, transformando-se em uma plataforma para discutir questões sociopolíticas. Ao longo do tempo, o gênero evoluiu, gerando diversos subgêneros, muitos deles influenciados por identidades regionais ou pela fusão do funk carioca com estilos internacionais.

Apesar de uma tendência crescente de letras mais sensuais e erotizadas, o que muitas vezes leva a debates sobre a objetificação feminina nos videoclipes, o funk contemporâneo conta com a presença de cantoras como Anitta, MC Rebecca, Lexa, Ludmilla e Valeska Popozuda, que desafiam essa narrativa ao usar o gênero como uma forma de empoderamento e expressão pessoal.

Vale destacar que, até muito recentemente, o funk era amplamente estigmatizado – e, em certo nível, ainda é – devido às suas origens humildes. A pobreza no Brasil tem cor, aporofobia entrelaçada com racismo estrutural, o que contribuiu para a marginalização do gênero. Em alguns momentos, houve até debates sobre criminalizar o funk, e muitos ainda o consideram poluição sonora.

Contudo, o gênero tem ganhado popularidade no cenário internacional, sendo tocado em clubes, reconhecido através de lançamentos recentes de ícones como Anitta em turnês internacionais e em hits de Carnaval. Cada vez mais, o gênero tem se tornado acessível e popular, oferecendo visibilidade àqueles muitas vezes marginalizados e criando oportunidades por meio da música, da dança e da cultura, ao invés de um caminho de criminalidade.

O rap nasceu na Jamaica dos anos 60, onde grupos de músicos se juntavam em festas de rua nos guetos do país da América Central. Elas surgiram pelo nascimento dos amplificadores de som. Eles democratizaram as festas, tornando possível fazer uma balada na boate ou na rua do gueto.

Os donos dessas “baladas” eram DJs, conhecidos como toasters. Então, eles colocavam todo mundo para dançar com base em palavras rimadas e reggae. A princípio, os temas eram descontraídos, porém, com o passar do tempo, eles começaram a falar sobre questões políticas e sociais. Além disso, as batalhas de improviso também surgiram nessa época. Quem não concordasse com o que um toaster vinha rimando, podia cantar e desafiá-lo com outros versos.

Chegou no Brasil através dos Estados Unidos nos anos 80 e se consolidou na década seguinte. Logo ganhou um tempero local, cantando o jeitinho e a dor do brasileiro das favelas e periferia, sendo mais uma plataforma de retratarem a sua realidade.

Favela: Musa do Cinema

Curiosamente, a favela é o grande “maçã dos olhos” dos cineastas brasileiros, sendo cenário e tema recorrente para retratar a realidade social do país. Um dos primeiros filmes a abordar a temática foi Favela dos Meus Amores, lançado em 1935 e dirigido por Humberto Mauro, com roteiro de Henrique Pongetti e produção de Carmen Santos. Este foi o primeiro filme brasileiro a explorar as questões sociais ligadas às favelas do Rio de Janeiro, destacando a vida e os desafios enfrentados por seus moradores. Infelizmente, a única cópia conhecida do filme foi perdida em um incêndio na década de 1960, apagando um registro importante do cinema nacional e de sua abordagem pioneira sobre a desigualdade social no país.

Em seguida, longas como Rio 40 Graus, de 1955, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, e Cinco Vezes Favela, rodado em 1962 por cinco diretores, começaram a destacar ainda mais o cenário das favelas como tema no cinema nacional. É importante mencionar que Rio 40 Graus foi um precursor do Cinema Novo no Brasil, um movimento que emergiu nas décadas de 1960 e 1970 como uma fusão única da Nouvelle Vague da França e do Neorrealismo italiano. Esse movimento representou uma ruptura com as normas tradicionais de narrativa, inspirando-se na subversão da Nouvelle Vague e nos temas denunciatórios característicos do Neorrealismo italiano.

Ao contrário do cinema brasileiro mainstream da época, que consistia principalmente em musicais, comédias e épicos ao estilo de Hollywood, os filmes do Cinema Novo exploraram as duras realidades da sociedade brasileira, iluminando comunidades marginalizadas, como as favelas e o sertão, e trazendo suas histórias para fora das sombras, desafiando as normas sociais.

Orfeu Negro ou Orfeu do Carnaval (Marcel Camus, 1959) é uma obra fundamental que retrata a lenda grega de Orfeu e Eurídice, inserindo-a no contexto moderno do Rio de Janeiro durante o Carnaval. Sua importância vai além de ser a primeira produção de língua portuguesa a conquistar o Oscar e a única na categoria de melhor filme estrangeiro. O filme se destaca pelo brilho com que celebra a cultura negra brasileira, trazendo uma visão colorida e musical da vida nas favelas, que destaca o talento e a beleza dos protagonistas negros, transmitindo um retrato vibrante do Brasil ao mundo.

A trilha sonora, que integra samba, bossa nova e outros ritmos brasileiros, eleva ainda mais essa celebração, enquanto a cinematografia captura a essência do Carnaval carioca, com coreografias e performances musicais que ressaltam a alegria e a resiliência das comunidades afro-brasileiras. Combinando música, uma rica paleta de cores e uma narrativa poética, Orfeu Negro se firma como um marco no cinema brasileiro, exaltando a identidade e a cultura afro-brasileira de forma apaixonante e impactante.

Outro exemplo notável é Cidade de Deus (Fernando Meirelles, 2002), que conta a vida da favela de Cidade de Deus entre as décadas de 60 e 80 através das lentes de Buscapé. Esse filme ganhou destaque internacional nos grandes prêmios de cinema. Ao retratar a favela, Meirelles foi muito minucioso, inclusive contratando atores não profissionais. No Brasil, sabemos que quem é rico fica mais rico; quem é pobre fica mais pobre.

Após o sucesso estrondoso de Cidade de Deus, os que já estavam estabelecidos no Brasil viram suas carreiras florescer. Seu Jorge (1970-) continuou sua carreira como ator e músico; Matheus Nachtergaele (1968-) fez sua estreia no bem-sucedido Auto da Compadecida (Guel Arrares, 2000); Alice Braga (1983-), sobrinha da renomada atriz Sônia Braga (1950-), ganhou reconhecimento internacional. No entanto, alguns atores, como Alexandre Rodrigues, se tornaram motoristas de Uber; Douglas Silva participou de um reality show popular; e Rubens Sabino acabou vivendo nas ruas e detido pela polícia. Muitos outros, atores não profissionais, voltaram à vida nas favelas, tornando-se esquecidos e reduzidos a meras “balas perdidas” em reportagens de notícias, que curiosamente sabem do seu destino em corpos negros.

Recentemente, a HBO Max lançou uma série sequencial com a maioria do elenco original, oferecendo uma representação mais diversificada. A nova geração de atores profissionais negros e as tramas atualizadas mostram os moradores presos entre traficantes de drogas, milícias e autoridades governamentais. No entanto, seu desejo de romper o ciclo une a comunidade na luta contra seus opressores. Os diretores agora se tornaram produtores, e a série foi renovada para uma segunda temporada.

Cidade de Deus foi a semente para muitos outros filmes que exploram as diferentes camadas da vida nas favelas cariocas, abrangendo uma variedade de gêneros e histórias. A obra é uma mistura de entretenimento com comentário social, como, por exemplo, Tropa de Elite (José Padilha, 2007), Era Uma Vez (Breno Silveira, 2008) e Sonhos Roubados (Sandra Werneck, 2009), entre tantos outros. No entanto, o sucesso estrondoso de Cidade de Deus também contribuiu para o estereótipo que os estrangeiros têm sobre o Brasil.

O termo ‘Othering’ ou ‘Otherizing’ descreve a ação reducionista de rotular e definir alguém como um ‘nativo subalterno’ — uma pessoa pertencente à categoria socialmente subordinada do Outro. Essa dinâmica evidencia como a representação cinematográfica pode limitar percepções e reforçar preconceitos em relação à identidade plural e à diversa cultura brasileira, repleta de aglomerados nas favelas e camadas que se sobrepõem no Brasil.

A favela não é somente musa do cinema, mas é importante falar sobre ela na nossa teledramaturgia, A representação das favelas em novelas tem avançado em direção a um realismo mais autêntico, especialmente com os núcleos populares. As primeiras abordagens desse tema começaram em 1984, com Partido Alto, a primeira trama a explorar o universo do funk carioca. Em seguida, produções como a minissérie Bandidos da Falange e Pátria Minha se aprofundaram na temática, sendo esta última a primeira novela a construir uma pequena favela em cidade cenográfica.

A Rede Record inovou ao gravar cenas diretamente em favelas, como na novela Vidas Opostas, escrita por Marcílio Moraes, onde o diretor Alexandre Avancini filmou grande parte da história na Comunidade Tavares Bastos, no Catete, Zona Sul do Rio, usando moradias reais e conquistando uma das maiores audiências da emissora. A temática ganhou ainda mais relevância com o curta Palace 2, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, exibido na série Brava Gente em 2001. E, em seguida, o fenômeno Cidade de Deus, previamente mencionado, que também influenciou as produções televisivas.

Favela: Sonhos & Projetos

Nas favelas, habitam muitos sonhos por uma condição de vida melhor, pois a realidade não se resume apenas ao crime e à violência. Existem pessoas e organizações dedicadas a criar projetos que visam reduzir as taxas de evasão escolar e a criminalidade, trazendo mais acesso e oportunidades. Esses esforços incluem programas de alfabetização, transformações sociais e outras iniciativas educacionais, que buscam oferecer uma base sólida para um futuro mais promissor.

Além disso, as favelas são o lar de muitas lendas e talentos promissores no universo dos esportes. Um exemplo disso é a Taça das Favelas, o maior campeonato de favelas do mundo, que celebra a paixão pelo futebol e revela o potencial de jovens atletas, promovendo a inclusão e o engajamento comunitário.

Essas iniciativas comunitárias inovadoras surgem como respostas aos desafios enfrentados, promovendo a sustentabilidade e a inclusão social. Ao focar nessa conexão entre passado e presente, é possível reconhecer as favelas não apenas como áreas de desafios, mas também como espaços dinâmicos que moldam a identidade cultural e social do Brasil.

As favelas brasileiras, movimentando cerca de 202 bilhões de reais por ano segundo o Instituto Data Favela, revelam o potencial econômico e a força empreendedora de seus moradores. A inclusão dessas populações nas políticas públicas é crucial para combater a fome e a pobreza no Brasil, que afetam 70,3 milhões de pessoas em insegurança alimentar moderada e 21,1 milhões em insegurança alimentar grave, conforme um relatório da ONU de 2023.

É crucial reconhecer e abordar essas complexidades, promovendo diálogos e políticas públicas que valorizem a voz e a luta das comunidades. Muitas dessas complexidades estão ligadas ao racismo estrutural do Brasil, onde a pobreza tem cor. Curiosamente, o Brasil é o país com a maior população negra fora do continente africano. Essa realidade revela como as desigualdades raciais se entrelaçam com questões socioeconômicas, criando um ciclo difícil de romper.

Outskirts, Slum, Suburbs, Development

Muito se falou sobre as favelas no Brasil, mas pouco se discute sobre a desigualdade no exterior. Você sabia que, no Reino Unido, utilizamos quatro termos que são equivalentes à nossa “favela”, mas que não capturam sua essência?

Outskirts (Periferia): Registrado pela primeira vez no final do século XVI nas obras de Edmund Spenser, o termo evoluiu para descrever as bordas externas de cidades e municípios. Essas áreas estão distantes do núcleo urbano, mas permanecem integradas à identidade do lugar. Historicamente, o conceito de subúrbios desempenhou um papel crucial durante períodos de expansão urbana, especialmente na Revolução Industrial. Essas áreas muitas vezes possuem identidades culturais distintas, moldadas por suas demografias e dinâmicas sociais, servindo como microcosmos de tendências sociais mais amplas. No discurso contemporâneo, reflete questões como o crescimento urbano desordenado, a gentrificação e mudanças nas preferências de estilo de vida. Também é um tema recorrente na literatura e nas artes, onde simboliza a tensão entre a agitação da vida urbana e o desejo de tranquilidade.

Slum (Morro ou Favela): Este termo se refere a uma rua ou bairro urbano sórdido e superlotado, habitado por pessoas muito pobres. Inicialmente considerada uma gíria britânica originada no East End de Londres, onde significava “quarto”, referindo-se a um espaço de habitação. Na década de 1820, começou a ser utilizado para descrever áreas em Londres caracterizadas por habitações precárias e condições insalubres, refletindo a realidade da vida de muitos residentes que enfrentavam problemas de infraestrutura, higiene e superlotação. Por volta de 1845, o termo evoluiu para “back slum”, que indicava “ruas dos pobres” ou “becos”, destacando não apenas a localização geográfica, mas também a marginalização social de seus habitantes. Entre os anos 1890 e 1930, legislações foram implementadas para remover as slums, enquanto a migração rural para as cidades e os ciclos econômicos contribuíram para a formação dessas áreas de pobreza.

Suburbs (Subúrbio): No Reino Unido, um subúrbio é uma área residencial localizada fora do centro de uma cidade, independentemente das fronteiras administrativas. Já nos Estados Unidos e no Canadá, o termo “suburb” pode se referir tanto a uma área residencial periférica de uma cidade ou município quanto a um município separado ou uma área não incorporada situada fora de uma cidade.

Development: Refere-se a uma área pobre com alta taxa de desemprego, onde o governo tenta incentivar o crescimento econômico por meio da criação de novas indústrias para gerar mais empregos. Essas regiões frequentemente enfrentam desafios significativos, como falta de infraestrutura, baixos níveis de educação e acesso limitado a serviços básicos. O objetivo das iniciativas governamentais é revitalizar essas comunidades, atraindo investimentos e promovendo a geração de empregos sustentáveis, na esperança de melhorar a qualidade de vida dos residentes e estimular um desenvolvimento econômico mais equilibrado.


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