Cadeiras de Plástico: Entre a Infância, Cultura e Resistência Latina

Quem diria que um simples par de cadeiras de plástico brancas carregaria tanto peso?

Se você ainda não pegou a referência, aqui vai: o ano de 2025 começou com Bad Bunny, no dia 5 de janeiro, lançando o álbum DeBÍ TiRAR MáS FOToS. A capa é simples, mas poderosa – duas cadeiras de plástico, ordinárias e sem luxo, posicionadas em um quintal com pés de bananeira ao fundo. Elas não são apenas cadeiras. São portadoras de memórias, histórias e, mais do que tudo, de uma latinidade que resiste, se transforma e nunca desaparece.

Essas cadeiras são parte essencial das casas e varandas, especialmente em comunidades latinas. Muito além de funcionais, elas testemunham encontros, conversas e celebrações. São as testemunhas de encontros, conversas e histórias compartilhadas entre familiares e amigos. Elas estão longe das imagens de resorts exclusivos ou das praias paradisíacas de San Juan; pelo contrário, representam a autenticidade da vida cotidiana e desempenham um papel sutil, mas importante, na luta contra a gentrificação e a perda da identidade cultural, em oposição às franquias que dominam o mundo e pintam o cenário global de uma única cor.

Porém, seu simbolismo não é apenas latino. Para muitos, essas cadeiras são memória: infância e família. Me lembro delas nos dias quentes de verão, quando o calor era acolhido como parte da rotina. Elas estavam sempre lá – nas praias, com a brisa suave e o som das ondas; nos botecos de esquina, onde risadas e conversas altas se misturavam ao cheiro de comida, ao futebol na TV e a uma bebida gelada- às vezes uma música ao vivo. Eram parte dos momentos simples e inesquecíveis.

As festas infantis também tinham seu palco nas cadeiras de plástico. Espalhadas ao redor das mesas, formavam círculos de convivência: os mais velhos compartilhando histórias, os mais novos correndo e brincando ao redor, tendo muitas vezes a sua versão mini – como a minha irmã caçula e eu. Apesar de simples, essas cadeiras sustentavam memórias – olhares cúmplices, abraços calorosos, risos que pareciam eternos e tantas histórias.

Naqueles dias, as brincadeiras aconteciam ao ar livre. As telas existiam, mas ainda não dominavam para nos entreter – a diversão estava na imaginação livre que moldava o mundo. As crianças ainda não precisavam de videogames ou redes sociais para se conectar. Às vezes com uma ajudinha de um brinquedo. As conversas fluíam naturalmente, sem pressa, como se o tempo fosse nosso aliado. Eram nelas que os adultos nos contavam histórias de outrora, enquanto nós, crianças, nos reuníamos em grupos para inventar novos mundos, novos jogos, sem qualquer pressa de terminar.

As conversas fluíam naturalmente, sem pressa, como se o tempo fosse nosso aliado. As cadeiras de plástico eram o cenário das trocas, dos momentos de pura interação, de risos e até de pequenas brigas que logo se resolviam com um abraço. Eram nelas que os adultos nos contavam histórias de outrora, enquanto nós, crianças, nos reuníamos em grupos para inventar novos mundos, novos jogos, sem qualquer pressa de terminar.

Era nelas que as conversas se estendiam até tarde. Segredos, risadas, conselhos, até silêncios – tudo passava por essas cadeiras. Me lembro até de um pequeno acidente, quando, sentado desajeitado, cortei o braço ao escorregar. Foi um lembrete de como até os momentos triviais podem se tornar intensos, parte de algo maior.

Com o tempo, crescemos, e essas cadeiras ganham outro peso. Continuam lá, mas algo falta – o conforto da infância, as pessoas que preenchiam os espaços ao redor. Agora, muitas vezes, estão vazias.

Para os latinos longe de casa, essas cadeiras são um símbolo de saudade e pertencimento. Elas nos conectam ao passado e nos ajudam a enfrentar as transformações que vêm com a distância, enquanto tentamos preservar nossa identidade, mesmo longe de casa. Quando encontramos outros latinos no exterior e compartilhamos histórias, é como se nos aproximássemos de casa, mesmo separados pelo oceano. Em tempos violentos e sombrios, é o que importa!

Ao olhar para essas cadeiras simples, vemos muito mais do que um objeto comum: vemos um símbolo de resistência cultural, de vínculos familiares e de memórias que não desaparecem. Elas nos lembram que, onde quer que estejamos, nossa história e nossa cultura seguem vivas, sentadas confortavelmente em nossas lembranças, esperando para serem revividas.

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