Como a Capoeira Conecta Mascote, Comunidade e Cultura?

E se te dissessemos que o Brasil é muito mais do que o Carnaval e o samba? Conheça Samuel Lee-Manning, mais conhecido como Mascote. Um graduado de sociologia e apaixonado contramestre que traz à vida a rica herança da cultura afro-brasileira por meio da capoeira. Uma mistura única de arte marcial, dança, música e resistência.

Através de seu trabalho, Mascote não compartilha apenas movimento, mas também constrói pontes culturais para comunidades imigrantes e jovens. Ainda mais de segunda geração que buscam se reconectar com suas raízes. Seus esforços ajudam a apresentar a riqueza das tradições brasileiras a públicos mais amplos — indo muito além dos clichês usuais.

Da Descoberta à Devoção

Após passar três anos no exterior, Mascote se apaixonou por essa forma de arte brasileira. Assim, escolheu se dedicar completamente a ela. Entre 2004 e 2005, ele treinou intensivamente — estudando, viajando e se dedicando totalmente à capoeira.

Em 2008, mudou-se para Birmingham. Lá fundou a primeira filial no Reino Unido da Escola de Capoeira Cordão de Ouro (CDOB). Ele foi o pioneiro no ensino de capoeira na região.

A missão da escola é celebrar e conscientizar sobre a riqueza das identidades e práticas culturais brasileiras. No seu coração, há um compromisso mais profundo: criar espaços inclusivos e enraizados na comunidade para a expressão da herança brasileira — abertos a todos.

Com mais de duas décadas de experiência internacional, incluindo passagens pela Europa, Índia, Rússia, Indonésia, Japão e Malásia. Mascote continua a compartilhar a capoeira com diversas comunidades ao redor do mundo. Em 2010, ele lançou o Festival Internacional de Capoeira de Birmingham. Um evento anual que atrai até 150 capoeiristas e mestres renomados de todo o mundo.

O Que é Capoeira?

Quando os africanos foram trazidos ao Brasil durante o período da escravidão. Eles foram forçados a viver em condições brutais e desumanas. Confinados em senzalas e trabalhos nas casas, grandes plantações, minas e engenhos de açúcar, enfrentavam violência tanto física quanto psicológica.

Negados do direito de praticar qualquer forma de combate, os escravizados desenvolveram a capoeira como uma forma disfarçada de resistência. Combinando elementos de música, dança e movimento marcial, a capoeira permitia que preservassem as tradições africanas enquanto treinavam para autodefesa. A capoeira não é sobre lutar. Ela é projetada como uma prática sem contato, onde o objetivo não é acertar o parceiro.

Para quem vê de fora, os movimentos pareciam uma dança. A capoeira tradicional é acompanhada por instrumentos como o berimbau, atabaque, pandeiro, agogô e reco-reco. As músicas, muitas vezes na forma de ladainhas — carregam memória, mito e significado através das gerações.

O Significado do Nome

A palavra capoeira vem da língua Tupi, derivada de caa-apuam-era — que significa “mato limpo”. Refere-se aos espaços abertos nas florestas onde os escravizados fugitivos se reuniam secretamente para praticar.

Esses espaços escondidos, incluindo quilombos — comunidades estabelecidas por escravizados fugitivos — tornaram-se poderosos símbolos de resistência e preservação das tradições africanas. Vale mencionar que essa tradição remonta ao norte de Angola e ao oeste da República Democrática do Congo.

Perseguição e Marginalização da Capoeira

Mesmo após a abolição da escravidão em 1888, os negros brasileiros continuaram sendo marginalizados. Eles enfrentaram desigualdade estrutural, violência racial e a falta de acesso à educação, emprego e direitos civis.

A capoeira também foi criminalizada. Durante os séculos XIX e início do XX, ela foi associada à rebelião e à desordem. Juntamente com outras expressões culturais afro-brasileiras como o samba e o candomblé. Todas foram fortemente reprimida pelas autoridades, mas continuou (re)existindo no subterrâneo, sendo preservada nos terreiros.

Foi só na década de 1930 que a capoeira começou a ganhar legitimidade. Mestre Bimba, uma figura central na história moderna da capoeira, abriu a primeira academia oficial em 1932. Em 1937, ele conseguiu o reconhecimento legal da capoeira como esporte. Nesse mesmo ano, o banimento foi revogado e a capoeira começou a ser abraçada como uma forma de arte nacional. O dia 3 de agosto é amplamente celebrado — embora de forma não oficial — como o Dia da Capoeira.

Capoeira ao Redor do Mundo

Hoje, a capoeira é praticada mundialmente desde a década de 1970. Seus diversos estilos e escolas refletem sua capacidade de evoluir, mantendo-se enraizada na tradição. A capoeira não é uma forma fixa; ela é uma arte viva — aberta a mudanças, interpretações e comunidade.

Para as comunidades africanas, a capoeira serve como uma forma de reconectar-se com o conhecimento ancestral, incorporando rituais tradicionais, instrumentos africanos e a narrativa oral. Muitos a veem como uma ferramenta para recuperar práticas culturais perdidas ou desvalorizadas pela colonização e pela diáspora — uma forma de renovação cultural e empoderamento.

Capoeira para Imigrantes

Para os imigrantes brasileiros, a capoeira é um meio poderoso de manter a identidade. É uma maneira para os jovens imigrantes de segunda geração se conectarem com as suas raízes culturais muitas vezes ausentes em seus ambientes cotidianos.

A capoeira é transmitida de mestre para aluno, de corpo a corpo, de voz a voz. Na diáspora, ela se torna um arquivo vivo — que conecta gerações através de continentes. É uma porta para o autoconhecimento e uma ponte curativa para a herança. Para muitos, ela se torna o antídoto para a saudade — aquele profundo e emocional desejo de casa. Mas a capoeira oferece mais do que uma conexão com o passado — ela também cultiva habilidades e valores essenciais para a vida no mundo globalizado e diverso de hoje.

Capoeira como Catalisadora

No cruzamento entre movimento e significado, o trabalho de Mascote com a capoeira vai muito além da arte marcial — ela é uma ferramenta para o desenvolvimento social, a educação e o diálogo intercultural. Em cada roda, os participantes aprendem mais do que agilidade física. Eles desenvolvem disciplina, autoconfiança, resiliência emocional e respeito pelos outros.

Através de sua filosofia de ensino inclusiva, Mascote fomenta uma cultura de escuta e empatia. As aulas são abertas a pessoas de todas as idades, origens e habilidades, criando espaços seguros onde a diferença não é apenas aceita, mas celebrada. A sensibilidade cultural está embutida em cada movimento e em cada canção — oferecendo aos participantes não apenas uma chance de aprender sobre a herança afro-indígena do Brasil, mas também de confrontar suas próprias suposições culturais.

Para os jovens, especialmente aqueles de comunidades marginalizadas ou diásporas, a capoeira se torna uma tábua de salvação. Ela oferece mentoria, estrutura e um forte senso de pertencimento. Em cidades como Birmingham — onde identidades multiculturais se cruzam — a escola de Mascote empodera os jovens a se orgulharem de sua herança, ao mesmo tempo em que aprendem a valorizar as tradições de outros.

Ao ensinar capoeira com consciência histórica e respeito cultural, Mascote ajuda os alunos a navegarem por identidades complexas em sociedades multiculturais. Ele os prepara não apenas para chutar ou girar, mas para se engajar com o mundo com curiosidade, compaixão e coragem.

Cura Através da Herança

Cultura é comunidade — o fio invisível que une pessoas de diferentes origens. Em tempos de incerteza política e social, a capoeira nos lembra de algo vital:

A cultura não constrói muros — ela abre caminhos. Capoeira pode ser uma alternativa poderosa e positiva para a criminalidade e a superexposição digital. Duas realidades que muitas vezes atraem os jovens em busca de identidade, propósito e conexão. Na capoeira, eles encontram movimento, ritmo, ancestralidade e significado.

A jornada de Mascote reflete essa promessa. Não apenas uma carreira no movimento, mas um movimento de cultura, solidariedade e transformação. Sua filosofia é simples:

“Todos são talentosos e capazes de alcançar seus sonhos — com o apoio dos amigos. A consistência, não a intensidade, é a chave do sucesso. Trabalhar duro pelo que amamos é paixão.” Por isso, ele adora ensinar Capoeira todos os dias.

Em 2022, Mascote e sua esposa/sócia/contramestre, Joyce deram um passo ousado ao fundar o Viela, uma experiência única de comida de rua brasileira no coração do Jewellery Quarter, em Birmingham. Um espaço onde a cultura brasileira pode ser vivida através de todos os sentidos. Na frente, o café oferece uma deliciosa culinária brasileira, e, nos fundos, o estúdio ganha vida com a energia vibrante da Capoeira.

A Cultura Latina Está a Um Clique de Distância

Assim como o trabalho de Mascote constrói pontes através da capoeira, a SOMOS é um espaço acolhedor para brasileiros e outros latinos que vivem na Europa, oferecendo informações gratuitas, apoio e comunidade — a apenas um clique de distância.

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