O reggaetón começou a tomar forma nos anos 1980, quando trabalhadores jamaicanos no Panamá introduziram o reggae e o dancehall, que foram traduzidos para o espanhol e desenvolvidos no Reggae en Español. Mais tarde, esse estilo ganhou destaque no final dos anos 1990 e início dos anos 2000, impulsionado por diversos músicos porto-riquenhos, que incorporaram influências desses gêneros, além do hip-hop de Nova York e ritmos latinos.
Apesar de sua crescente popularidade, o reggaetón sempre enfrentou um estigma associado a questões culturais e sociais.
Nos primeiros anos de sua ascensão, o gênero foi frequentemente marginalizado, sendo visto por muitos como vulgar, associado a letras explícitas e a uma imagem estereotipada de festas e diversão sem compromisso. Esse estigma também estava ligado a percepções negativas sobre a música, frequentemente associada a contextos de violência urbana e à marginalização das comunidades latinas, especialmente em Porto Rico, onde o gênero se originou. No entanto, alguns artistas desempenharam um papel crucial na desconstrução desse preconceito.
O racismo também teve um papel nesse estigma. O reggaetón surgiu de comunidades afro-caribenhas e latinas marginalizadas, particularmente em Porto Rico, e carrega influências do reggae, dancehall e hip-hop — gêneros que historicamente enfrentaram críticas racializadas.
Assim como outros movimentos musicais urbanos e negros, como o hip-hop e o dancehall, o reggaetón foi muitas vezes rejeitado como vulgar ou perigoso, reforçando estereótipos sobre as comunidades que o criaram. Nos anos 1990, as autoridades em Porto Rico chegaram a tentar censurar o reggaetón, associando-o ao crime e à degradação moral, de forma semelhante ao que aconteceu com o hip-hop nos Estados Unidos.
Conforme o reggaetón foi ganhando espaço no mainstream, artistas de pele mais clara ou considerados “white-passing” receberam mais visibilidade, enquanto pioneiros negros e afro-latinos tiveram menos reconhecimento. Ainda hoje, algumas discussões sobre a legitimidade do reggaetón carregam preconceitos raciais e de classe.
A música funk se originou no sul dos Estados Unidos durante os tumultuados e revolucionários anos 1960. Foi criada por músicos negros, como Horace Silver, James Brown, George Clinton, entre outros. Inicialmente, o gênero era uma mistura de outros ritmos negros populares, como o blues, o gospel, o jazz e o soul. A palavra “funk” é uma fusão do inglês com o kimbundu, usada por músicos de jazz para incentivar seus colegas a infundir mais energia na música. Ela evoluiu durante o movimento dos Direitos Civis nos Estados Unidos, apresentando letras que retratavam as experiências cotidianas dos negros, incluindo a discriminação e horizontes limitados.
Com o passar dos anos, o funk evoluiu para uma música com um ritmo constante, dançante e uma melodia envolvente, mesclando-se com outros gêneros, como o rock, durante os anos 1970. Também foi sampleado por DJs no contexto do disco, o que contribuiu para a popularização do gênero. Na década de 1980, o funk combinou-se com o hip hop e o rap, ambos originários de bairros negros em diferentes localidades — Miami, com um ritmo acelerado, e Nova York, respectivamente. No Miami Bass, as letras e a coreografia eram mais eróticas e carregavam uma influência cubana. Essa faceta do gênero ultrapassou fronteiras e encontrou sucesso no Brasil, particularmente no Rio de Janeiro.
O funk chegou oficialmente ao Brasil durante a década de 1970 e rapidamente cativou músicos renomados, como Tim Maia (1943-1998) e Tony Tornado (1970), que foram responsáveis por mesclar o funk americano com ritmos brasileiros. O radialista Big Boy (1943-1977) promoveu os “Bailes da Pesada” no Canecão, no Rio de Janeiro, apresentando uma mistura de rock, soul, groove e funk, tornando-se um ponto de encontro popular para a juventude da cidade. Eventualmente, esse evento chegou ao fim, dando lugar a uma divisão entre o rock e a música eletrônica, o que levou ao surgimento do “baile funk”, que incorporou elementos do Miami Bass.
O Funk Carioca começou nos anos 1980. Tradicionalmente, era uma mistura de batidas eletrônicas oriundas do hip hop ou da afrobeat, com a percussão pesada do Candomblé, infundida com a poesia do rap e a habilidade do DJ em mesclar batidas repetitivas com melodias. Os temas das músicas giravam, comumente, em torno da vida cotidiana nos subúrbios cariocas e nas favelas. Na década de 1990, a violência urbana escalou, com as favelas sofrendo invasões por forças policiais. Em resposta, as letras passaram a retratar essa realidade dura, evoluindo para uma plataforma de debate sobre questões sociopolíticas. Ao longo dos anos, o gênero continuou a evoluir, dando origem a diversos subgêneros, muitos dos quais surgiram em função da identidade regional misturada ao Funk Carioca ou da fusão do gênero com influências internacionais.
O Funk Melody surgiu, oferecendo temáticas nuançadas e românticas através de três gerações, do final dos anos 1980 até os anos 2010. No entanto, o gênero gradualmente perdeu popularidade, sendo ultrapassado pela música pop nas rádios e pelo Funk Carioca nas favelas. Um exemplo famoso desse subgênero é o renomado duo Claudinho e Buchecha, do final dos anos 1990 e início dos anos 2000.
O Funk Ostentação surgiu em 2008, em São Paulo. Suas músicas tipicamente giram em torno de temas de consumo e ostentação. Inicialmente, emergiu como uma resposta ao Funk Carioca, que frequentemente se centrava na criminalidade e no sofrimento. O subgênero ganhou popularidade entre 2011 e 2014; entretanto, a crise econômica no Brasil, em 2014, levou ao seu declínio. Um exemplo desse subgênero é o MC Guime.
O Funk Chavoso originou-se da expressão “chave de cadeia”, que se refere a uma pessoa com tendência a causar problemas, e evoluiu para uma gíria que designa os caras descolados de um bairro. Ele é mais reconhecível visualmente do que através do conteúdo temático ou dos sons de suas músicas. Os artistas frequentemente usam óculos de sol das marcas Quiksilver, Oakley ou Evoke, junto com tênis de cano alto. Um exemplo desse subgênero é o MC Boy.
O Funk Ousadia, também conhecido como Funk Picante, surgiu em 2013, em São Paulo. Os temas predominantes em suas músicas giram em torno do erotismo com conotações sexuais, frequentemente utilizando trocadilhos como forma de humor. Exemplos desse subgênero são o MC G15 e o MC Tati Zaqui.
O Funk Proibidão é semelhante ao gangsta rap. Ele se originou na década de 1990, nas favelas do Rio de Janeiro. Suas músicas abordam explicitamente temas duros de violência e crime. Um exemplo desse subgênero é o MC Catra.
O Brega Funk surgiu em 2011, na periferia de Pernambuco, misturando elementos do Funk Carioca, do arrocha e do eletrobrega nordestino. Entretanto, ele ganhou popularidade em todo o país em 2018. O segundo gênero mencionado, o brega, foi popular na década de 1950, apresentando músicas românticas. Exemplos desse subgênero são MC Leozinho do Recife, MC Dadá Boladão, MC Tocha, MC Tróia, Priscila Senna, Shevchenko e El Loco e MC Cego Abusado.
O Trapfunk é uma fusão do rap dos anos 2000, oriundo do sul dos Estados Unidos, com o funk. Ele incorpora batidas sintetizadas e timbres mais melódicos. Exemplos desse subgênero incluem WC no Beat e PK.
O Rave Funk mistura a música eletrônica, mais especificamente o EDM, com o Funk Carioca de Dennis DJ. Exemplos desse gênero são DJ GBR e DJ Tezinho.
O Pop Funk é uma mistura do pop com o Funk Carioca, contando com nomes de destaque como Pabllo Vittar e Luísa Sonza.
Durante a evolução do Funk Carioca, as letras tornaram-se mais sedutoras e erotizadas, como mencionado anteriormente. Contudo, essa mudança gerou debates frequentes sobre o gênero. Os videoclipes muitas vezes objetificam e sexualizam as mulheres, o que leva a discussões sobre seu impacto. Atualmente, há cantoras que desafiam essa narrativa e se empoderam, como Anitta, MC Rebecca, Lexa, Ludmilla e Valeska Popozuda.
É importante notar que, até muito recentemente, o gênero era estigmatizado e, até certo ponto, ainda é, devido às suas origens humildes. A pobreza no Brasil tem cor, aporofobia entrelaçada com o racismo estrutural. Chegaram a haver discussões sobre a potencial criminalização do gênero, e alguns até o consideram uma poluição sonora.
O gênero está entrelaçado com a pobreza. O Brasil foi o último país da América Latina a abolir a escravidão, em 1888. Ao longo do século XIX, os escravizados lutaram por sua liberdade através de fugas para quilombos, rebeliões e uma emancipação legal gradual. Após a abolição, muitos ex-escravizados migraram em busca de melhores oportunidades ou para se reunirem com suas famílias, mas frequentemente enfrentavam repressão, sendo rotulados como ociosos ou vagabundos. Com acesso limitado à terra e à educação, foram forçados a trabalhar por salários baixos para grandes latifundiários, presos em um ciclo de pobreza e marginalização social. Os terreiros serviam como espaços sagrados dedicados à prática da cultura afro-brasileira. Contudo, essas reuniões, especialmente em espaços públicos, frequentemente chamavam a atenção da polícia, pois eram consideradas suspeitas sob leis injustas, enraizadas em um racismo velado e em visões preconceituosas.
Contudo, o gênero começou a ganhar popularidade no mainstream no exterior, sendo tocado em clubes, recebendo atenção através de lançamentos recentes de ícones como Anitta, embarcando em turnês internacionais e com hits de Carnaval. Como mencionado anteriormente, sua popularidade também se espalhou por diversas plataformas de mídia social. Notavelmente, na 63ª edição do Grammy Awards, houve uma performance de Cardi B, que escolheu cantar seu hit “WAP”, remixado pelo DJ brasileiro Pedro Sampaio. Essa foi a primeira vez que o Funk Carioca abrilhantou o palco de um evento musical tão prestigiado. Além disso, o Funk Carioca é ao mesmo tempo popular e acessível, proporcionando visibilidade àqueles frequentemente marginalizados na sociedade e oferecendo oportunidades através da música, da dança e da cultura, em contraste com uma vida de criminalidade.
Recentemente, o “Passinho” foi reconhecido como patrimônio cultural imaterial do Rio de Janeiro. Esse estilo de dança urbana, característico dos bailes funk, se destaca pelo ritmo acelerado, pelos pés descalços e por um gingado inconfundível. É uma fusão vibrante de samba, break, frevo, capoeira, influências afro e, claro, o funk.
Mais do que uma expressão artística, o passinho representa um movimento de resistência — um protesto contra o estigma que ainda paira sobre o funk e seus artistas, frequentemente marginalizados e associados injustamente ao crime (bandidos ou traficantes) por serem oriundos das favelas, assim como aconteceu com o samba no passado. Para muitos jovens, o passinho é uma alternativa à criminalidade, além de funcionar como uma ponte entre comunidades e até gangues rivais.
A importância do movimento já foi reconhecida em documentários, como o disponível na Netflix, e o funk está prestes a ganhar um dia nacional em sua homenagem. O passinho também ganhou projeção internacional, sendo destaque em eventos como as Olimpíadas de 2012, a Copa do Mundo de 2014 e até em performances de artistas como Beyoncé, no Rock in Rio de 2013.
Recentemente, o Funk Carioca sofreu a perda de algumas de suas figuras de destaque. Em 2018, MC Catra, frequentemente considerado o rei do gênero, faleceu. Apenas no último sábado, dia 26 de agosto, MC Marcinho, considerado o príncipe do gênero, também nos deixou. Embora não exista uma rainha ou princesa oficialmente reconhecida do gênero, as discussões sobre esses títulos continuam em andamento.
Não obstante, as gerações mais antigas abriram caminho e passaram a tocha para novos artistas, que cantam persistentemente para dar voz às suas realidades, fazendo com que todos ouçam e pioneirizando novos subgêneros. O legado eterno das gerações anteriores vive através de suas músicas e dos icônicos passinhos que jamais serão esquecidos.
Agora, o que eles têm a ver com o Coachella? Foi o primeiro festival que trouxe os gêneros latinos para o mainstream. Reggaetón, através do Bad Bunny, e o Funk, através da Anitta, que já teve uma tour internacional que resultou em uma concorrência ao Grammy. Ambos infelizmente não estiveram presentes este Coachella, mas fizeram história.
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