Estudar no Reino Unido é uma experiência que une parte da equipe SOMOS — uma brasileira e dois mexicanos, com vivências em diferentes níveis de ensino, tanto antes quanto depois do Brexit, durante a pandemia ou não. De alguma forma, nossas trajetórias como latinos no exterior se cruzaram e se encontram nesses 243.610 km².
Neste post, reunimos informações práticas para quem deseja estudar no Reino Unido — seja em uma graduação, pós-graduação ou mesmo no ensino médio. Também compartilhamos um pouco das nossas experiências pessoais nesse sistema educacional tão distinto do que estamos acostumados na América Latina e muito além da calourada.
Como Estudar no Reino Unido
Para cursos de graduação, o processo de inscrição é feito por meio da plataforma UCAS, sistema oficial utilizado pela maioria das universidades britânicas. Nela, você deverá preencher seus dados pessoais, inserir seu histórico escolar, informar eventuais experiências profissionais, selecionar até cinco cursos ou instituições e elaborar sua carta pessoal — o chamado personal statement, onde você apresenta seus interesses acadêmicos e motivações para estudar no Reino Unido. A candidatura só será válida após o pagamento da taxa de inscrição.
Os prazos para se candidatar variam conforme o tipo de curso. Em geral, a maioria das graduações tem prazo até janeiro. Já cursos de arte e design costumam aceitar inscrições até março. O prazo de junho marca a última data oficial para a maioria dos cursos; depois disso, as candidaturas passam a ser analisadas por meio do sistema de compensação (ou extra chance), que considera vagas remanescentes. Para cursos altamente seletivos, como Oxford, Cambridge, medicina, odontologia e veterinária, o prazo final é em outubro.
Durante o processo de candidatura para estudar no Reino Unido, é possível alterar o curso ou a universidade escolhida, caso você mude de ideia. Essas mudanças podem ser feitas dentro dos prazos estipulados pela UCAS, então fique atento ao calendário oficial.
Se você não receber nenhuma oferta de universidade, ainda assim terá uma chance. O sistema conhecido como clearing permite se candidatar a cursos que ainda têm vagas abertas. Ele é voltado para quem perdeu os prazos principais, não foi aceito em nenhuma instituição ou não atendeu aos requisitos de uma oferta condicional. Caso necessário, também é possível recusar uma vaga diretamente pela plataforma.
Quem deseja estudar no Reino Unido como estudante internacional deve estar preparado para comprovar proficiência em inglês. O exame mais solicitado pelas universidades é o IELTS, embora outras certificações também possam ser aceitas. Verifique com antecedência os requisitos específicos de idioma para o curso que você pretende fazer.
Já para quem está interessado em pós-graduação — seja um mestrado (de 1 a 2 anos) ou um doutorado (de 3 a 4 anos) — o processo é conduzido diretamente por cada universidade. Para estudar no Reino Unido em nível de pós-graduação, você precisará comprovar seu nível de inglês, demonstrar capacidade de autofinanciamento (ou obter uma bolsa) e atender aos critérios acadêmicos exigidos com base na sua formação anterior.
Ensino médio no Reino Unido
Sofia Ribeiro Willcox, do Brasil, finalizou o ensino médio (ou A-Levels) no Reino Unido entre os anos de 2018 e 2020.
Esqueça começar as aulas em fevereiro ou março, acordar de madrugada ou usar uniforme com paletó, gravata e calça social (ou saia). O ensino médio britânico tem um funcionamento bem diferente.
No Reino Unido, o ano letivo começa em setembro e existem “miniférias”: uma semana de recesso a cada seis semanas, além dos feriados, Natal e Páscoa.
As aulas vão das 9h às 15h20, mas podem se estender até as 17h, com intervalos de 25 minutos a cada duas aulas e 1h para o almoço.
Cada aula significa um deslocamento diferente até a sala de um professor. As turmas são divididas em sets, de acordo com o desempenho acadêmico em cada disciplina. Havia ainda o tutor group, um pequeno grupo de alunos supervisionado por um professor, responsável por acompanhar o bem-estar emocional e o progresso escolar. Nesses grupos, e também nas assembleias, havia pautas semestrais com discussões relevantes para os jovens.
No Reino Unido, é comum que alunos chamem seus professores pelo título formal seguido do sobrenome, usando “Miss” para professoras solteiras, “Mrs” para professoras casadas e “Mr” para professores homens, independentemente da idade ou grau acadêmico. Esse uso é uma forma educada e respeitosa de tratamento dentro da escola, especialmente no ensino fundamental e médio.
Os bailes? Só nas colações de grau: entre o GCSE e o A-Level, e entre o A-Level e a faculdade.
Para se matricular, o critério principal é a catchment area. Importante lembrar que a idade escolar obrigatória vai dos 5 aos 16 anos, o uniforme varia de segmento escolar e dependendo da idade pode ser obrigatório ou não.
College e University no Reino Unido: qual a diferença?
No Reino Unido, “college” e “university” não são exatamente a mesma coisa — e entender isso ajuda quem quer estudar por lá.
College costuma ser uma instituição focada no ensino médio (aqui chamado de “sixth form college” ou “further education college”), onde os estudantes fazem cursos como GCSEs e A-Levels, que preparam para a entrada na universidade. Além disso, há colleges técnicos e profissionalizantes, com cursos mais práticos e voltados para o mercado de trabalho.
Já a university é a instituição onde você faz cursos de graduação (bacharelado), pós-graduação (mestrado e doutorado) e pesquisa acadêmica. As universidades são responsáveis por conceder diplomas reconhecidos nacional e internacionalmente.
Resumindo: o college é mais preparatório e técnico, enquanto a university é o lugar para quem busca um diploma universitário e formação acadêmica mais aprofundada.
Porém em universidades tradicionais como Oxford e Cambridge, o termo college tem um significado especial. Cada college funciona quase como uma “mini-universidade” dentro da universidade maior, com seus próprios professores, instalações e tradições. Os estudantes se matriculam em um college específico, que será sua “casa” durante o curso, mas o diploma é conferido pela universidade como um todo.
Bacharelado no Reino Unido
Luis Calixto, do México, estudou na London School of Economics entre os anos 2014 e 2017. Uma das suas maiores surpresas para alguns foi descobrir que aquela arquitetura reconhecível e as bibliotecas milenares eram usadas, eventualmente, para seminários e provas, enquanto as aulas aconteciam parcialmente de forma remota. No entanto, esse não foi o maior choque. O impacto maior veio ao perceber as grandes diferenças sociais entre os estudantes, algo que fez com que ele se sentisse um pouco “atrás”, especialmente por vir de uma cidade muito classista no México. Ele começou a graduação mais tarde, aos 25 anos, após viajar por sete anos depois do ensino médio, e teve aulas tanto presenciais quanto virtuais. Apesar das dificuldades, aprendeu que essas divisões sociais não precisavam definir sua trajetória acadêmica; focou nos estudos e se conectou com pessoas que valorizavam a oportunidade de estudar, o que a ajudou a aproveitar ao máximo essa experiência transformadora.
Sofia também estudou na University of Wolverhampton entre 2020 e 2023, conviveu nos famosos alojamentos. A convivência nunca foi perfeita — e, sendo realista, acho que nunca poderia ser. Somos humanos dividindo espaço, e o conflito acaba aparecendo, seja por divisão desigual das tarefas, seja por diferenças culturais. Por isso, a gente precisava ter conversas sinceras e transparentes para entender e respeitar os limites de cada um. Nem sempre era fácil, às vezes até desconfortável, mas essas conversas eram necessárias para manter o ambiente e as relações em equilíbrio. Estávamos todos dividindo o aluguel e o mesmo espaço, então não dava para fugir disso. Morar junto exigia confiança e um apoio mútuo, embora isso não significasse amizade — era mais sobre respeito, especialmente pelo espaço individual. Cada um tinha seu papel, e as áreas comuns tinham regras claras: manter tudo limpo, organizado e evitar problemas. Os alarmes de incêndio e as evacuações independente do frio ou da hora. Além disso, existiam espaços e serviços para resolver qualquer pepino, desde consertos técnicos até apoio emocional, com aconselhamento para cuidar da saúde mental. E claro, cada um também tinha que se virar com suas próprias contas, despesas da faculdade, supermercado, lavanderia, extras e os imprevistos que surgiam no dia a dia.
Pós-Graduação no Reino Unido
Abel Villa, do México, estudou o seu doutorado na University of Endinburgh entre 2013 e 2018, já fluente no idioma, ele não enfrentou dificuldades com a comunicação, mas achou desafiador interpretar o estilo britânico de fornecer feedback, especialmente no ambiente acadêmico.
Acostumado à comunicação direta presente nos ambientes acadêmicos alemão, americano e mexicano, ele estava habituado a receber críticas de forma explícita. No entanto, percebeu que os supervisores britânicos costumam formular comentários de maneira mais sutil, o que pode levar a interpretações equivocadas sobre o progresso acadêmico.
Um exemplo que ele mencionou foi a maneira como os supervisores reagiam a ideias ambiciosas. Quando lhe disseram que sua ideia era “muito ousada”, ele inicialmente interpretou isso como um elogio, acreditando que estava propondo algo inovador. Mais tarde, percebeu que, no contexto acadêmico britânico, essa expressão geralmente indicava que a ideia era irrealista ou difícil de concretizar dentro do prazo do doutorado.
Ele também refletiu sobre o significado da palavra “interessante”. Se dita com entusiasmo e contato visual direto, realmente indicava curiosidade genuína. No entanto, quando expressada de maneira calma e com uma entonação ascendente, muitas vezes significava ceticismo educado ou crítica indireta.
Outra frase que chamou sua atenção foi “isso é algo que você pode querer reconsiderar”. Embora parecesse uma sugestão neutra, ele descobriu que, na verdade, era uma maneira sutil de indicar que sua abordagem estava equivocada e precisava de ajustes significativos.
Por fim, ele mencionou o impacto da simples palavra “certo”. Quando um colega ou supervisor britânico fazia uma pausa e dizia “certo” após ouvir suas ideias, isso geralmente era um sinal indireto, mas claro, de que seu argumento estava errado e exigia uma revisão profunda.
Abel levou mais de um ano para compreender completamente essas nuances e reconheceu que navegar por esse estilo de comunicação implícita pode ser especialmente difícil para aqueles que não estão familiarizados com as convenções acadêmicas britânicas.
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