The Golden Age of Mexican Cinema: Mexicanidad (Mexicanness) and National Identity

Quando alguém pensa sobre cinema e a história do cinema mais amplamente, vários países talvez venham à cabeça. Possivelmente o cinema italiano com ênfase no neo-realismo que gira em torno dos temas de pobreza, dificuldades e instabilidade política. Talvez o cinema Francês com o foco no desenvolvimento dos personagens e enredos realistas, o que ajudam a audiência a se conectar com os personagens, se vendo neles. Muitos outros países são conhecidos por boas histórias de cinema, porém, talvez sem sombra de dúvidas, o país que vem em primeiro lugar seria os Estados Unidos, mais especificamente, Hollywood.

Não é uma surpresa para ninguém que Hollywood é frequentemente considerada como a definição de um cinema nacional forte. Afinal, cinema hollywoodiano foi e continua sendo poderoso, numa posição dominante no mercado global de filmes, sendo capaz de gerar uma quantidade considerável de bilheteria e tendo o poder de influenciar a cultura pop em todo o mundo. Hollywood é reconhecida por sua importância, mas, logo ao sul da fronteira, o cinema latino-americano muitas vezes é esquecido, apesar das ricas e vibrantes tradições de produção cinematográfica em países como Argentina, Brasil e, especialmente, México.

México é raramente mencionado como um grande produtor de cinema, apesar de em um momento, a indústria cinematográfica Mexicana era comparável a Hollywood, em termos de popularidade e qualidade. Tanto que nos referimos a esse momento histórico como Era de Ouro do Cinema Mexicano. Esse período foi entre os anos de 1936 e 1956, marcado pelo cinema mexicano atingindo níveis altos de produção, qualidade e sucesso econômico, além de ganhar reconhecimento internacional. 

Identidade Nacional Mexicana

Quando alguém pensa no México, várias imagens vêm à mente. Talvez as comidas diferentes como burritos e tacos. Os gêneros musicais de mariachi e huapango. Existe uma suposição que as regiões do México possuem uma única nação monolítica e, portanto, a existência de uma identidade cultural unificada presente.   

De fato, é fácil, quando se frequenta um restaurante mexicano que serve tacos, tamales, mole e enchiladas, seguido de uma apresentação mexicana tocando música norteña, ranchera, Son jarocho e Son huasteco, assumir com segurança que esses são atributos culturais presentes em todo o território do México. Isso, apesar do fato de que muitos desses atributos culturais realmente se originam de partes muito diversas e distantes do México, um país que é o décimo terceiro maior em área, enquanto é o décimo país mais populoso do mundo.

Por exemplo, o burrito é um alimento frequentemente consumido no norte do México, com a comida, segundo alguns, originária de Ciudad Juárez, enquanto os tacos vêm, segundo outros, da Cidade do México e das áreas circundantes. De fato, a Cidade do México abriga atualmente quase 11.000 taquerias registradas. A mesma diversidade regional pode ser encontrada na música do México, já que o Mariachi, uma das formas mais populares da música mexicana, se originou no oeste do México, provavelmente nos estados de Jalisco, Zacatecas, Guanajuato e outros estados. Isso em comparação com o Son jarocho, originário do estado oriental de Veracruz.

No entanto, apesar da grande variação regional na cultura mexicana, uma mistura de diversos costumes regionais e culturais pode ser encontrada em todo o país. Em qualquer região do México, é muito natural ouvir qualquer mexicano exclamando, ¡Que viva México! (longa vida ao México!), mostrando uma identidade nacional mexicana unificada.

Cinema e Formação do Estado 

Cinema foi o principal veículo para promover a identidade cultural mexicana. Especialmente durante a Época de Ouro do Cinema Mexicano (décadas de 1940 e 1950), que foi fundamental para a formulação de uma identidade nacional homogênea mexicana. Durante a Época de Ouro, o cinema funcionou como uma ferramenta para o estado tentar unificar os “muitos Méxicos” e definir o que constituía a qualidade especial de ser mexicano; como a identidade mexicana se manifestava e como o estado poderia instilar um orgulho em ser mexicano, especialmente considerando a Revolução Mexicana (1910 – 1917), que ocorreu apenas algumas décadas antes da Época de Ouro.

A Revolução terminaria no ano de 1917 após a adoção da Constituição de 1917, embora os estudiosos discordem sobre o momento exato de seu fim. Com isso, a Revolução seria institucionalizada, e um novo governo seria estabelecido com base na Constituição de 1917, que buscava implementar reformas socioeconômicas como redistribuição de terras, direitos trabalhistas e separação entre igreja e estado. No caso do México, a violência revolucionária enfraqueceu o país como um todo, e o governo nacional pós-revolucionário concentrou-se em estabilizar o país e implementar as reformas previstas na nova constituição.

O discurso nacional sobre o que significava ser mexicano e o que constituía a mexicanidad (a qualidade de ser mexicano ou identidade mexicana) continuaria mesmo após a Revolução Mexicana. Após a Revolução, o novo governo fez compromissos com o progresso e a modernidade, o que significava alcançar altos níveis de saúde, avanço tecnológico e crescimento econômico, características associadas à Europa da época. Esse objetivo envolvia a extensão de recursos às populações indígenas e campesinas, além de incorporá-las ao estado-nação. “Esses projetos inter-relacionados de indigenismo e mestizaje também inauguraram um novo discurso nacional que fez dos indígenas e dos mestiços seus protagonistas, numa tentativa de exaltar visivelmente os novos sujeitos nacionais” (García Blizzard 17).

Isso é evidente nas obras dos renomados artistas mexicanos Diego Rivera e Frida Kahlo, que foram muito ativos nas décadas de 1930 e 1940. No caso específico da arte de Diego Rivera, ele centraria os povos indígenas ao pintá-los em murais sancionados pelo estado em edifícios públicos para que todos pudessem ver. Isso é evidente no mural da escada de Rivera no Palácio Nacional, a sede do executivo federal no México. Esse mural centra a indigeneidade por meio da representação da história do México, com cenas do México pré-colonial e da vida indígena no México antes da chegada dos espanhóis.

Cinema e Identidade Nacional 

Mais ou menos na mesma época, o relacionamento do estado com as artes se fortaleceria com o financiamento significativo da produção cinematográfica durante o período que mais tarde seria conhecido como a Época de Ouro do Cinema Mexicano, que durou de aproximadamente o final da década de 1930 até a década de 1950.

Não apenas a arte serviria como uma produção cultural útil para avançar o discurso patrocinado pelo estado sobre o que significava ser mexicano, mas também o filme serviria como um meio crucial para esse propósito. A alteração política, social e cultural da identidade nacional mexicana coincidiu com o desenvolvimento de uma poderosa indústria cinematográfica nacional. Durante a Época de Ouro do Cinema Mexicano, cineastas, com a intenção de transformar a indústria cinematográfica em um cinema unicamente mexicano, fariam da identidade nacional um tema crucial em suas produções cinematográficas.

Com essa ideia em mente, “na busca por representar o México e o lo mexicano, diretores como Fernando de Fuentes, Alejandro Galindo, Ismael Rodríguez e Emilio Fernández recorreram a várias ideologias nacionalistas que definiram a nação após a Revolução – mestizaje, hispanismo e indigenismo – e que tinham uma base racialista. Essa estratégia visava forjar uma solidariedade nacional entre uma população dividida por linguagem, gênero, etnia e afiliação regional” (Hershfield 82).

É importante observar que, no final do século XIX, o México passou por uma rápida modernização durante o Porfiriato (período em que o general Porfirio Díaz governou o México como presidente, por meio de uma ditadura de fato, no final do século XIX e início do século XX). À medida que o México vivia essa modernização junto com a agitação sociopolítica da Revolução Mexicana, formas de entretenimento popular, como o teatro e o cinema, se tornaram uma válvula de escape metafórica para o público. Simultaneamente, essas formas populares de entretenimento também serviriam como processos de interpelação para a população nacional.

Melodrama 

O melodrama foi um gênero fundamental para cumprir essa função. A respeito do melodrama, “…não era apenas que os mexicanos iam ao cinema para se ver como eram, mas, sim, para aprender como deveriam ‘se tornar’” (Hershfield 44). Segundo Jacqueline Avila, “o melodrama mexicano… tem perdurado como um gênero popular ao longo das mudanças tecnológicas, em parte porque serviu como uma função de mediação entre as formas mais antigas de narrativa e as novas forças da modernidade.” Da mesma forma… o melodrama funciona como uma mediação entre as culturas existentes e emergentes, de modo a abordar necessidades sociais e culturais específicas das populações em mudança, funcionando como uma ponte entre a experiência histórica coletiva e as vidas dos indivíduos durante períodos de crise social e ideológica” (Avila 13).

Além disso, o melodrama é importante devido ao seu profundo efeito sobre o público — os espectadores adoram drama, e o melodrama oferece uma abundância disso. Os melodramas são reconhecíveis devido à narrativa frequentemente extrema e trágica para o personagem principal, o que gera uma resposta emocional e frequentemente empática da audiência. O melodrama é importante, pois funciona a partir de uma relação entre o filme e o espectador. Essencialmente, o melodrama foi importante para incutir um senso de identidade mexicana no espectador mexicano.

Conclusão 

A importância da Época de Ouro do Cinema Mexicano não pode ser subestimada. Durante esse período, o cinema mexicano produziu obras de qualidade excepcional em uma multiplicidade de gêneros, como comédia, romance e musical. 

Durante esse período, filmes como María Candelaria (1943) conferiram enorme prestígio ao cinema mexicano, com as obras sendo exibidas mundialmente em importantes festivais de cinema. De fato, María Candelaria foi o primeiro filme mexicano a ser exibido no Festival Internacional de Cinema de Cannes e recebeu o Grande Prêmio (hoje conhecido como Palme d’Or) em 1946, tornando-se o primeiro filme latino-americano a conquistar tal prêmio.

Além disso, esses filmes eram caracterizados pela produção de filmes de alta qualidade que contribuíram para moldar a identidade e cultura nacionais mexicanas, com grande parte da forma como hoje vemos o México e sua cultura vindo desse período.

 Filmes são essenciais devido à sua capacidade de refletir a cultura, mudar a cultura e impulsionar o crescimento econômico. Com o cinema sendo um reflexo de sua própria sociedade, a importância do cinema nunca deve ser subestimada e deve sempre ser apreciada.

Recomendações de Filmes dessa Era

  • María Candelaria (1943)
  • Víctimas del pecado (1951)
  • La Zandunga (1938)
  • Nosotros los pobres (1948)
  • Los Olvidados (1950)

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