Karina

Em Tempos de Brexit, Karina Simón Mostra que Ensinar é Resistir

E se você presenciasse o fim do mundo — o que faria? Karina Simón viveu esse momento há quase 25 anos.

Na Argentina, viu suas economias desaparecerem da noite para o dia durante o colapso econômico. A vida que ela conhecia deixou de existir. Diante da incerteza, ela deu um salto no desconhecido: mudou-se para o Reino Unido, onde novos desafios a esperavam — financeiros, culturais e linguísticos.

Seu primeiro trabalho no novo país foi como garçonete em um pequeno restaurante espanhol em Caterham, Surrey. Com persistência e adaptabilidade, Karina passou por diversas funções administrativas até descobrir sua paixão pela educação. Formou-se como professora, conquistando um PGCE em Línguas Estrangeiras Modernas e um mestrado em Liderança e Gestão na Educação.

Ao longo do caminho, aprendeu francês e tornou-se professora de ensino médio em francês e espanhol. Ao longo de 19 anos, moldou mentes jovens em salas de aula britânicas.

A educação tornou-se sua bússola. No mundo de Karina, a língua não é uma barreira — é um superpoder. Falar mais de um idioma não apenas abre portas — abre mundos. Desenvolve flexibilidade cognitiva, aprofunda o entendimento cultural e amplia oportunidades no trabalho, na educação e nos relacionamentos.

Mas, no Reino Unido, especialmente após o Brexit, o multilinguismo pode ser uma faca de dois gumes. Embora continue sendo uma força, às vezes faz com que você se sinta como um estranho — estrangeiro demais para pertencer totalmente, fluente demais para ser completamente compreendido. Para agravar, muitos falantes nativos de inglês demonstram pouco interesse em aprender novos idiomas, já que o inglês domina globalmente. Essa mentalidade monolíngue tem contribuído para a diminuição do número de estudantes de línguas estrangeiras e para a escassez de professores de idiomas.

Essa tendência isola falantes não nativos e torna a comunidade latina — frequentemente negligenciada no Reino Unido — amplamente invisível. O trabalho de Karina com a Mafalda Tutoring desafia diretamente esse declínio, oferecendo uma educação rica em línguas e culturas para preencher essas lacunas e inspirar tanto alunos quanto educadores. Seu ensino vai além do vocabulário e da gramática, incorporando um profundo conhecimento cultural da América Latina, Espanha e regiões francófonas para dar vida ao aprendizado de idiomas.

O que começou como aulas particulares de espanhol se transformou em uma plataforma totalmente online que oferece disciplinas desde árabe até japonês, mandarim, matemática, ciências e humanidades. Hoje, a Mafalda Tutoring trabalha com mais de 15 educadores freelancers e atende mais de 30 alunos.

“O nome ‘Mafalda’ tem um duplo significado”, explica Karina. “É uma homenagem à icônica personagem de quadrinhos criada por Quino e à minha bisavó.”

Como a Mafalda de Quino, ela usa a educação para desafiar o mundo a ser melhor.

A jornada de Karina não é apenas pessoal — é coletiva. Como mulher latino-americana vivendo no Reino Unido, ela entende as tensões do pertencimento, a beleza do multilinguismo e o poder das histórias compartilhadas. Ela reforça:

“Somos minoria e é importante que estejamos unidos, nos apoiemos e celebremos nossos costumes e tradições.”

SOMOS é uma comunidade de apoio e uma plataforma para todos que estão enfrentando a vida em uma nova terra — estudantes, profissionais, pais e viajantes. É um espaço onde as vozes latino-americanas são ouvidas, o patrimônio é celebrado e as histórias nos unem. Enraizado no apoio mútuo, o SOMOS redefine o pertencimento garantindo que ninguém se perca na tradução. Em um mundo moldado pela xenofobia e por leis migratórias restritivas, o SOMOS cresceu de uma rede para um poderoso movimento — a conexão é o que enche nosso balão de ar quente, elevando todos juntos.

Por trás da educadora, imigrante e empreendedora, Karina continua sendo uma eterna aprendiz. Atualmente, está aprendendo italiano, em homenagem às raízes do avô em Reggio Calabria. O próximo da lista? Árabe — uma referência ao avô sírio de Homs.

“Acho que ser imigrante está no meu sangue”, diz ela, sorrindo.

Sua jornada nos lembra que toda história importa — e que, por meio da linguagem e da educação, podemos construir pontes sobre qualquer oceano. Com seu trabalho, Karina mostra que educação e linguagem não são apenas ferramentas — são pontes que atravessam continentes, culturas e corações.

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