Manga

Manga: Musa Latino-Americana e Símbolo dos Imigrantes Latinos

Neste final de ano, muitos de nós, imigrantes, nos pegamos pensando em casa, no calor do verão, na fartura e na suculência das nossas frutas. Entre elas, uma verdadeira estrela sazonal: a manga. Apesar de suas origens estarem no Sul e Sudoeste Asiático, a fizemos nossa, integrando-a ao lado de tantas riquezas tropicais nativas — o abacaxi, a goiaba, o açaí, a jabuticaba. Não é só uma fruta; é parte de quem somos, com sabores, cores e histórias que costuram o tecido cultural diverso e vibrante do nosso povo.

Quando eu piso em folhas secas
Caídas de uma mangueira
Penso
…”

Folhas Secas – Nelson Cavaquinho

A manga sempre esteve presente na minha casa, graças a uma mãe mangófila. Para ela, era quase um ritual buscar as mangas mais doces e suculentas na feira, trazendo para a cozinha o sabor tropical que marcava nossa rotina. Mas a minha relação com essa fruta vai além. Cresci com o quintal da Mata Atlântica como pano de fundo, onde nunca faltavam mangueiras. Essas árvores, imponentes e generosas, carregavam tanto frutas quanto histórias, transformando cada canto em um espaço de memória.

Seja no pátio da escola ou na casa de férias da família, as mangueiras eram sempre presença garantida. Pintavam a paisagem do que chamo de casa: uma casa que não é feita só de paredes, mas de raízes profundas. Mangueiras, com suas copas vastas e frutos brilhantes, fazem parte do imaginário afetivo de muitas gerações de brasileiros, unindo nossas histórias através do tempo. Não há como pensar em um verão sem lembrar de mangas caindo maduras, prontas para serem saboreadas à sombra.

A manga é uma musa para nós. Muitas vezes, aparece como símbolo de tropicalidade, abundância e sensualidade, inspirando sambas, forrós e outros ritmos que celebram a vida e suas riquezas. Não é à toa que temos um bairro carioca que deu nome a uma das escolas de samba mais icônicas, a Mangueira. Pode evocar simplicidade e nostalgia. Mais do que uma fruta, a manga é um ícone de identidade, carregando em si o sabor da brasilidade e o imaginário tropical. Talvez surpreenda alguns saber que, além de ocupar esse papel no Brasil, sua doçura também conquistou paladares por toda a América Latina, adaptando-se às culturas vizinhas sem perder seu charme tropical.

No México, por exemplo, ela é protagonista do famoso mango con chile, onde pedaços de manga são temperados com limão, pimenta em pó (como Tajín) e uma pitada de sal. Uma explosão de sabores que mistura doce, azedo e picante, perfeita para os dias quentes. Além disso, é comum encontrar a manga em aguas frescas e smoothies, refrescando o povo mexicano com sua doçura natural. E, claro, não podemos esquecer os picolés de manga, conhecidos como paletas, que fazem parte da tradição dos desertos mexicanos.

Já na Colômbia, a manga verde, ou mango biche, ganha destaque como lanche, temperada com sal, limão e pimenta. É uma explosão de frescor e acidez, que refresca e desperta os sentidos. A manga também brilha nos jugos (sucos), muitas vezes misturada com leite para criar bebidas cremosas, ou como protagonista de sobremesas como o merengón, que combina manga com merengue e chantilly.

No Peru, a manga entra até em pratos salgados, como o ceviche tropical, onde a doçura da fruta contrasta com a acidez do limão e a picância dos temperos, criando uma experiência gastronômica única. A chicha de mango, uma bebida fermentada, é outra maneira de apreciar essa fruta deliciosa, um toque refrescante e exótico nas refeições.

No Equador, a manga é consumida de maneiras simples, mas deliciosas. Ela aparece em saladas tropicais, misturando a doçura da fruta com outros ingredientes frescos, criando uma combinação perfeita de sabores. E, como em outros países da região, a manga verde, temperada com sal e limão, é um lanche popular, trazendo frescor e crocância.

No Caribe, a manga é versátil e criativa: ela é transformada em salsas que acompanham peixe, frango ou carne, ganhando uma combinação picante e cítrica. Nos coquetéis, como o daiquiri ou a margarita, a manga dá o toque tropical e refrescante. Sem falar nos doces, como compotas ou geleias, que guardam o sabor da fruta para os momentos mais doces do dia.

E, embora não seja nativa da região, países como Argentina e Chile começaram a incorporar a manga em suas culinárias mais recentes, utilizando-a em sobremesas sofisticadas e pratos de fusão, trazendo um toque tropical à gastronomia local.

Na América Central, Peru e Caribe, a manga também desempenha um papel importante nas festividades e celebrações locais, como nas festas de rua e nas cerimônias de colheita. Um elo entre a cultura e o povo.

No México, a manga é tema de músicas como o son jarocho e outros estilos regionais que exaltam a vida nos campos e a tradição agrícola, celebrando a doçura da fruta e sua importância nas festas locais. A manga se torna uma metáfora para a abundância e a prosperidade, ligada ao ciclo de vida e ao ritmo das colheitas, como se a fruta fosse um reflexo da fertilidade da terra. A manga também ocupa um lugar importante no folclore mexicano, onde está ligada a lendas de fertilidade e prosperidade, representando a vida abundante que se reflete nas celebrações e na relação íntima das pessoas com a terra.

Já na Colômbia, a manga se associa à festa, ao calor humano e à união familiar. Em canções de cumbia e vallenato, ela é frequentemente utilizada como símbolo de prazer imediato e da doçura da vida. A fruta aparece como um elemento de celebração, uma imagem de vida boa, conectando o povo colombiano à sua rica tradição cultural e musical.

Além de tudo isso, a manga é uma verdadeira fonte de benefícios para a saúde. Mas, como dizem nossas avós com aquele ar de sabedoria: “não misture com leite!” A explicação delas? Bem, parece que uma combinação dessas pode gerar… um pequeno “rebuliço” no estômago! Claro, não sabemos se é mito ou verdade, mas quem vai arriscar desobedecer a tradição, não é mesmo?


A manga é mais do que uma fruta. Ela é símbolo de nossa jornada como imigrantes latino-americanos. Assim como nós, ela se adapta, se transforma e se conecta aos lugares que a acolhem. Da mesma forma que celebramos nossa diversidade e raízes, a manga celebra o espírito de abundância, união e prosperidade de nossa cultura.

A manga, como tantas frutas tropicais, é um elo entre nossas histórias, nossos países e nossas experiências. Na Somos, celebramos cada história e cada voz, unindo-nos por meio das nossas raízes e das riquezas culturais que compartilhamos. Venha se conectar e continuar essa jornada conosco. Assine nossa newsletter e receba semanalmente dicas, curiosidades e muito mais para seguir celebrando nossa história, juntos!

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