Selena Quintanilla, uma figura icônica da música Tejano, e John Lennon, uma das vozes mais influentes do século XX, compartilham destinos trágicos que reverberam até hoje
Ontem seria o aniversário de John Lennon, que, se vivo, completaria 84 anos. Para aqueles que talvez não o conheçam, Lennon foi uma das figuras mais influentes do século XX. Como líder e a mente criativa por trás de uma das bandas mais revolucionárias de todos os tempos, The Beatles. Ele ajudou a criar a trilha sonora que definiu uma geração e personificou a juventude dos anos 60. A banda marcou a cultura de ponta a ponta do Oceano Atlântico. Numa era sem internet, mudando para sempre a forma como vemos o mundo. Desde atitudes rebeldes até a moda e até mesmo a forma de falar e o prazer feminino. Os Beatles deixaram um legado cultural imenso.
No entanto, o intuito deste texto não é discutir a grandiosidade da banda, nem tampouco diminuí-la. O foco aqui é outro: a morte de Lennon, que foi tão marcante quanto sua vida. Em uma fria noite de inverno em Nova Iorque, cinco tiros foram disparados em frente ao edifício Dakota. Mark David Chapman, havia entregado uma cópia do recém-lançado Double Fantasy para Lennon autografar, encerrou de forma trágica esse sonho. Esses tiros tiraram a vida de um homem que lutava pelos direitos dos oprimidos, pela paz e pelo amor. Sua morte, em 1980, foi amplamente noticiada e gerou uma onda de choque global, com milhões de fãs em luto.
Quinze anos depois, não muito distante dali, no Texas, Selena Quintanilla também foi assassinada. Desta vez pela presidente de seu fã-clube, no auge de sua carreira. Conhecida por muitos como a rainha do Tejano, um estilo musical que mistura influências mexicanas (do nordeste do México e huapango), europeias (polca e valsa) e estadunidenses (rock, blues e country). Selena foi responsável por trazer o gênero Tex-Mex ao mainstream e misturar com pop. Além disso, abriu portas para mulheres latino-americanas e artistas de origem humilde no cenário musical. Sua trajetória de sucesso como filha de imigrantes trabalhadores se tornou uma inspiração para inúmeros talentos do pop latino nos anos 90 e 2000. Como Jennifer Lopez, Shakira, Selena Gomez, entre outros.
A jornada de Selena trouxe orgulho para uma nação que muitas vezes é apagada da história estadunidense, apesar de sua constante participação em episódios de discriminação e injustiça. O assassinato de Selena, em 1995, provocou uma onda de luto e revolta entre seus fãs e na comunidade latina.
Mark David Chapman foi condenado a uma pena de 20 anos à prisão perpétua e teve o pedido de liberdade condicional negado repetidamente. Já Yolanda Saldívar teve a pena de prisão perpétua com possibilidade de liberdade condicional após 30 anos pelo crime de homicídio. A data de elegibilidade para a liberdade condicional de Saldívar é 30 de março de 2025). Além disso, ambas histórias já foram retratadas no cinema e documentários. Explorando o ângulo de vilões até mesmo protagonistas, buscando entender as nuances e as camadas psicológicas por trás de tanta brutalidade.
Eis a questão. Por que o assassino de Lennon tem o pedido de liberdade condicional negado repetidamente e a assassina de Selena não tem tantas discussões assim? Sendo que, na teoria, ambos cometeram o mesmo crime. Ambas figuras foram importantes para o mundo como o conhecemos e suas comunidades, deixando um legado imensurável. Talvez pela seletividade da memória coletiva, o privilégio de um homem branco morto sob uma mulher latina morta.
A diferença nas narrativas em torno de suas mortes reflete questões mais profundas. Sobre raça, gênero e a forma como a sociedade escolhe lembrar e reverenciar figuras públicas. Lennon, um ícone da cultura pop, continua a ser celebrado e estudado. Enquanto Selena, embora ainda admirada, não recebe a mesma atenção nas discussões sobre seu legado e impacto cultural para essa comunidade tão numerosa nos EUA. Isso levanta uma reflexão sobre como a mídia e a história moldam a percepção pública, especialmente em relação a artistas de diferentes origens.
À medida que nos aproximamos das datas marcantes para ambas as figuras. É crucial considerar o que suas histórias revelam sobre as desigualdades ainda presentes em nossa sociedade. Por que as narrativas de Lennon e Selena são tratadas de maneira tão distinta? O que isso diz sobre a nossa cultura e os valores que escolhemos celebrar? O que essas histórias dizem sobre nós, e que legado desejamos construir para o futuro? No fim, essas histórias nos forçam a confrontar não apenas as memórias que escolhemos guardar, mas também os valores que, como sociedade, decidimos celebrar.
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